xeque-mate!
Guiou, meticuloso, cada ação do tabuleiro. Um atraso; meu traço ansioso sobre a folha velha. A dúvida que pairou sobre o ar; a piada que não possui mais graça. Não vi quando chegou; não pude me preparar para o jogo. Entre o torpor e a vontade; a coragem e a insegurança; o novo e o velho: um início que não justifica esse fim - sem os meios. Uma história construída com o requinte das minhas neuroses: visualizada e repetida em noites insones, em que eu preenchia os meus pesadelos juvenis em cartas e palavras nunca lidas, mas, desde aquele primeiro dia, direcionadas. Embaralhou suas peças, enquanto burlava as minhas noções de certo e errado. Roubou meu gosto; manchou, em tons da cor do mar, a minha roupa preferida. A intenção cortês; as palavras sujas; o olhar que queimava e a mão que hesitava na multidão. Se água e ar se confundiam naquela sensação de liberdade paralisante, como seria o paraíso? A incerteza jazia pulsante diante aquela partida sem palavras, repleta de significados. De repente, sentia precisava sair. Fim de jogo. Eram muitos jogadores em uma mesma rodada. E sem saber que estava presa, quase preparei minha fuga. Andei algumas casas à frente. Recuei. Não fui muito longe. Nunca fomos. Éramos apenas nós dançando entre as linhas, amarrados, sem força suficiente: eu não poderia ir; ele não poderia ficar. Quando as minhas palavras estavam engatilhadas, a desculpa chegou atrasada. Um acaso, um desencontro, um talvez. A verdade é que a queda do cavalo doeu tanto quanto a ferida que eu tentava curar. Será como cantou Renato, só imaginação? O silêncio responde muito mais do que jamais teve coragem.
