trama
Trama. Talvez seja este o melhor termo, dentre os meus já conhecidos, que liga a mim e à minha mãe.
Ela, afeita por ofício a linhas, tecidos, tesouras, máquinas de pedal, agulhas e medidas e moldes. Eu, desde a altura de minha meia década de vida, assim que alfabetizada, sempre às voltas com palavras, histórias, orações, dramas e pontuações. Debruçada sobre páginas e mais páginas.
As tramas que minha mãe recorta cotidiana e habilmente contam suas histórias aos olhos. Pelas cores, formas e texturas, mas também pelos corpos que as recheiam e as levam a passear. Já as tramas que escolho acessar ou mesmo as que timidamente tento compor, aguçam outros sentidos. Convidam ao imaginário, fazendo ver o invisível.
As tramas que ela toca e transforma sempre sustentaram a possibilidade de que eu pudesse ser tocada por aquelas outras tramas e também me transformasse. Ainda que ela não compreendesse plenamente os caminhos.
Ela e eu, embaraçadas, já nos desentendemos muito. Perspectivas diferentes e um mesmo medo muito grande de colocar tudo a perder. Com o tempo, porém, temos tratado de fiar mais. Nas conversas, no tom, na medida de intervalo entre uma e outra. Na tentativa e no desejo de manter vivo o cuidado.
Desfazer o drama, um trabalho para toda vida. Fazer um laço que ligue, mas não aperte. Firme e frouxo. Ainda não encontramos o ponto, mas já não me amendronta que estejamos tramando.
