Quatro colunas


por Aura, Midríase, Sentinela e Sola

Sobre os pintores de sentido

Meu pai costumava comprar revistas em uma banca, a qual ficava dentro de um supermercado. Certo dia, resolveu comprar uma edição chamativa da extinta Playboy. Passou pelo caixa e por meus questionamentos: “por qual motivo compra essa revista?”, “o que minha mãe irá dizer quando chegar em casa com essa revista?“. Tive uma espécie de ojeriza curiosa, que ainda mantenho com o que é pornográfico. Ao chegar na casa de minha mãe, fui denunciá-lo. Minha mãe deu de costas — “seu pai é um tonto” —, mas não sem antes adverti-lo de como consumi-la: “não deixe ele ver”. Sentado à mesa que ficava lá fora, folheava as páginas coloridas, tão coloridas, com um cheiro de impressão novinha. Observava, analítico, tão como desenhava seus projetos de máquinas para a fábrica. Entre uma olhada e outra, soltou o cinto da calça. Para ficar mais confortável, solto, talvez.

”Quebra meu galho, pega uma cerveja para mim”, o dizia para minha mãe (não) todos os sábados, sentado àquela mesa. A Skol tinha mais sabor, observava com uma certa frequência. “Sabe o que vou fazer? Xixi!”, anunciava como um feirante da feira de um bêbado só. Minha mãe achava o anúncio meio-engraçado, meio-homem, meio-tonto. “Também quero fazer xixi!”, respondi certa vez. O acompanhei até o banheiro, a mesma privada. O indaguei, fundamentada na crível inocência infantil, de como fazer xixi. As instruções eram simples, mas não tão óbvias: era preciso puxar a pele, para que não espirrasse, e que no final balançasse. Puxamos e balançamos em silêncio. Voltamos à mesa e minha mãe buscou mais uma lata de cerveja.

Minha analista disse que aprendi algo com ele.