Quatro colunas


por Aura, Midríase, Sentinela e Sola

Semana da mulher

Eu tomando meu Campari e a mina tomando uma breja. “Ah, mas se eu pegar uma breja pra você você toma comigo?”, eu falei: “Ah mano, não vou tomar agora, eu tô tomando Campari”. “Pô, mas você não toma comigo?”, eu falei: “Mano, não tomo, entendeu?“. Então assim, a mulher tem muita essa coisa, tipo, tentar moldar o cara, tentar colocar o cara, tipo, debaixo dela, mas isso não é na maldade, é como se fosse um teste realmente, né? Tipo assim, deixa eu ver quanto esse cara segura a opinião dele. Quanto que ele segura o jeito que ele é? Será que ele vai pegar essa breja só pra me agradar ou será que não, ele vai manter na bebida dele? E assim, são coisas pequenas. E o cara fala assim: “Obrigado, não vou beber hoje”. “Pô, mas você não vai beber?”, “hoje eu não vou beber!“. Acabou. É o cara exercitar isso aí, ele começa a entrar um pouco mais nessa questão, tipo, da rebeldia, de ser um cara mais autêntico, ser um cara mais original.

Estava com os dentes imundos de leite e frango assado; sentia as ranhuras de sujeira quando passava a língua por minha boca. Havia empacotado uma pequena escova de dentes, compacta, para economizar espaço naquela mochila grande, que representava algo grandioso longe de mim. A cor dela era de mato e naquela uma semana achei a escova de dentes uma vez, antes de perdê-la nos jovens fungos de uma toalha molhada.

Não esqueço dessa loucura: pular o tempo todo. Pule com a mochila cor de mato, com a escova de dentes, com a toalha fungosa… Pule, pule com tudo, deixe tudo cair, pegue o que caiu pulando, pule, pule, pule, para levantar toda essa terra seca da cidade dos pequenos vales. O sol era escaldante, o suor tão recorrente quanto as lágrimas de visão embaçada, tristeza. Pule, pule, pule… Os pulos acompanhados de uns gritos, que diziam algumas palavras que não queria escutar. Pule, mas também grite! A lei como loucura, corra sem parar, pule sem parar, grite sem parar, não pare, você é jovem! Você deve fazer isso tudo por ser jovem. Seu corpo é novo e forte. Ultrapassando todos os limites, um de cada vez, um após o outro, sem parar. Ser violento. Violento, sem palavras, só no pulo. Sem. Palavras.

Vejam só vocês: não é que colocaram o menos-homem para violentar? O alvo perfeito, já avistava o visto do sargento (mais)-homem. Dizia: “curso de homens, o menos-homem será!“. Para onde poderia correr? Fui de um tronco ao outro, colocaram um pedaço de tronco em uma de minhas mãos e um coelho na outra. “É para a sopa, você precisa se alimentar!”, o dizia bem alimentado para o homem em potencial.

  1. Coloque no tronco;
  2. Segure bem a cabeça;
  3. Acerte na nuca, para não sofrer.
  4. Não esqueça de sofrer enquanto o mata.

Debateu-se, demais. “Você está fazendo ele sofrer!”, dizendo que a culpa era toda minha. Mais uma nuca, duas. Senti nele a dor, a qual causei e não poderia cessar. Não parava de se mexer, ele não ia embora. Queria ir embora.