SEM RESERVAS
— Estou com uns textos já escritos, caso seja necessário.
Sinceramente, nem sei se de fato assim foi dito. Mas a ideia que ressoou pra mim foi uma espécie de poupança textual, em caso de emergência. O compromisso está pactuado, mas não sabe se sempre terá algo para escrever, com data marcada, então acha melhor reservar. Ué, mas isso também não pode ser assunto, não ter assunto?, questionei, com receio da resposta. Eu, que estava surpreendentemente confiante na minha capacidade de erguer as colunas, assim que ouvi sobre o tal banco, logo me vi incrédula, sem palavras, agora conflitante se poderia de fato sustentar esse lugar.
— Não reservamos mais, senhora.
Quarta-feira, ontem (pra mim, hoje), por volta das 17:50, estava tomando café, calculando o tamanho da fatia do bolo de cenoura e sua calda açucarada, aguardando a torrada ficar pronta e de repente senti um bem súbito: Que vontade de um rodízio de pizza!, pensei, ou melhor, exclamei, sem muito pe(n)sar. Animada, aquela que me ouvia logo tratou de conferir a possibilidade com o estabelecimento. Tempo suficiente para a tomada de consciência. Mal sei como zerar as contas do mês, como ouso querer algo mais? Não devo, ou melhor (pior), estou devendo demais! Logo não deveria dever mais… Dane-se! Se já vou rodar, que seja no rodízio! Pode confirmar!
— Lotação máxima, sem mais reservas para a noite.
Frustração. Mas um certo alívio.
Bom, já que a noite não terminou em pizza (o mesmo espero para a atual e prolongada situação do Brasil), vou ali arrumar um negocinho pra comer…
Ps.: No fim das contas, acabei encontrando algumas palavras.
Ouça: Songs Whitout Words, Op. 67: No. 4. Presto in C Major Spinning Song, no Spotify.
