Órgãos de sentido
Passear os olhos. Caçar a beleza, com a premissa necessária de que ela está por aí. Uma crença inabalável na existência da beleza.
Procurar por ela, forjando a cada tempo as ferramentas necessárias. Por vezes trata-se apenas de dar atenção aos arredores. Apurar os próprios olhos. Dedicar tempo.
Em outros momentos, é preciso suplementar: telescópios, microscópios, óculos, lupa. Espelho. Buraco de fechadura. Lançar mão dos aparatos já constituídos para o jogo de ver-desver-rever. Descobrir o que há para além dos limites do corpo. Outros corpos.
Mas há, ainda, o sublime instante em que se trata de garimpá-la ou esculpi-la com afinco. Beleza pedra-bruta. Exige suor. Sustentar a crença no manejo forçado das mãos. Trabalho árduo de dar à vista o que já se sabe ali.
Num giro à parte, é possível ainda dar consistência à beleza, usando palavras. Descrever, elogiar, circunscrever, dimensionar a beleza. Transformá-la no que ela não é: artifício de razão.
Será que tudo pode ser bonito? Será que beleza pode ser tudo? É criável, a beleza?
Há uma sustentação invisível no mundo. E é bonito.
