Quatro colunas


por Aura, Midríase, Sentinela e Sola

Não… diga não!

Semana passada não consegui escrever, nem aqui, nem em qualquer outro contexto. Não entreguei o relatório. Atrasei no repasse das metas. Deixei a reunião para outra hora. Esqueci de fazer a chamada ao fim da aula. Marquei duas atividades para o mesmo horário e me desdobrei para remanejar quando me dei conta do feito. Depois, fechei a agenda para que ninguém mais me procurasse. E isso era “só” terça-feira. A questão é que, antes da culpa esperada tomar meu o corpo, eu admiti, ali diante a pilha de papéis: eu me senti bem negando o que precisava ser feito. Deixar de fazer cada uma dessas atividades cotidianas e automáticas era, para começo de conversa, uma estratégia para localizar o que e como algo estava escapando; o que poderia estar causando aquele estado doentio entre o torpor e o caos. Eu não estava acostumada a me permitir dizer não para qualquer coisa. Fui treinada a dizer um sim sonoro para tudo e todos; passando por cima dos (meus) limites que berravam: pare! Eu esperava a culpa, sim, mas não vinha nada. Apenas uma mente vazia, silenciosa, opaca. Eu poderia, por fim, orgulhar a minha analista, pois continuei a semana me esgueirando de quase todos compromissos. Fui presença - de corpo - somente naquelas atividades impossíveis de serem remarcadas. Até sai mais cedo da comemoração! Para ser sincera, não entendi até hoje o motivo de tanta festa… Mas o vício do não fazer me sucumbiu em um momento de sanidade - ou falta dela -. Era quinta-feira e eu decidi dar um basta naquela suspensão. Voltei ao normal. Realizei tudo aquilo que não dei conta de fazer antes. Disse outros nãos fáceis, é óbvio: não para almoço, não para a pausa para o café; não para aquele tempo ocioso em redes sociais. Horas e horas sem comunicação, ao ponto de preocupar a minha família. Acharam que eu havia sumido ou algo pior, como disse meu pai raivoso quando, por fim, eu apareci. Fizeram uma algazarra! Ligaram para meu local de trabalho, ninguém atendeu, pois apesar de ainda estar lá, todos os outros já estavam em suas casas. Eu precisava estar lá para ensinar tudo o sobre o bem-estar, equilíbrio e todas as outras dicas estupidas vendidas como “infalíveis”. Segredo: eu falhei, elas (as dicas) falham, eles falham, nós falhamos. De certo, não pensei que fosse colapsar do nada, mas é interessante pensar que choque veio a partir do momento em que eu disse não para aquele imperativo que berrava: você vai ficar atrasada se não evoluir determinados documentos; se não fizer a visita técnica, se, se, se… Numa gagueira constante, percebi que sempre recheei os “se” com feitios; sempre imaginando que, se eu não fizesse, não gostariam de mim, eu não teria valor. Porém, enquanto estava ali tão certa do meu erro por não fazer, pela primeira vez, não me condenei pelo erro. Agora a pouco, incomodada com o tom, senti que cada batida do meu coração disparar anúncios para que eu parasse novamente. Eu entendi que ele tinha gostado e precisava dos nãos para seguir batendo.