Estava na academia
Ontem estava na academia. Essa semana voltei, depois de quase um mês sem ir, depois de um primeiro mês indo. Rs
Aquele maldito agachamento tira toda a minha vontade. Não sempre. Mas na maioria das vezes…
Na adolescência precisei fazer fisioterapia por dores na coluna. Não por má postura. Mas por falta de estimular os músculos da coxa. Os ossos cresceram mais que os músculos e isso me deixava sem jeito. Contorcia tentando achar uma posição, mas nada me deixava confortável. Depois de um tempo de fisioterapia, não tive mais problema.
Isso me lembrou de uma questão da adolescência. Durante toda a infância eu era das meninas mais altas da sala e entre as amigas também (que também eram da sala). Na verdade, desenvolvi tudo primeiro, entre o grupo de amigas. Nada “adiantado”, mas fui a primeira. Pêlos, seios, bunda, primeira menstruação, aquela famosa “encorpada”. Ser a primeira, em termos de desenvolvimento, parece que era minha especialidade. Mas tive um “choque”(queria uma palavra menos intensa) na adolescência quando percebi que fiquei menor do que todas as minhas amigas. Acho que fiquei presa à minha versão lá de trás, talvez, por um tempo, até não poder duvidar da régua.
Era estranho, porque eu era a última da fila (ó, nem em tudo a primeira) e de repente parecia tão pequena!
Bem mediana, na verdade. Na verdade, talvez minha especialidade seja ser na média. Que sem graça! Sem tempero.
Talvez os “primeiros lugares” fossem pra esconder meu lugar mediano.
Talvez fosse por isso que parecia torturante demais não conseguir um 10, entre os vários outros 10.
Era fácil tirar o 10, mas era difícil não o tirar.
Em algum momento também percebi que eles não significavam o que pareciam significar. """Revoltei""". Queria o 0. Mas a média não. Mentira. Não suportaria.
Mas eu estava na academia ontem, após, finalmente, depois de ultrapassar o prazo que parecia que ninguém de fato colocava o limite, entregar minha dissertação. Minha dissertação mediana.
Resolvi ficar mais tempo na esteira e fazer os exercícios programados que me interessavam. Nem peguei a ficha. A caminhada sem sair do lugar estava até suportável, até começar a implicar com os números. “Quando chegar nesse número redondo, eu paro”. Mas tinha o número da velocidade, o número das calorias, o número da distância, o tempo. “Ok. Não será possível arredondar todos…“. “Vou escolher esse!”
Não, eu estava na academia. “Vou deixar tudo aleatório.” “Wow! Consegui!“.
Eu estava na academia. Estava. Ontem formalizei o divórcio.
E posso escrever como bem entender ou não entender. Posso falar desses problemas idiotas.
Posso querer voltar, se em algum momento quiser e de fato fizer sentido.
Tenho vergonha da insignificância deles, meus problemas. Mas putamerda, preciso de problema nota 10 também? Mais um jogo entre eu e mim mesma.
Rodei, rodei em círculos, escrevi no corpo, nas paredes, senti na carne. Preciso de uma desculpa nota 10?!
Ontem eu estava na academia e foi bom o retorno desviante.
Ouça: In my life – interpretação de Rita Lee
