Baliza: uma semibreve com fusa, com pausa
Saí de casa em cima da hora hoje cedo. Mas talvez sinta a hora em cima de mim, algumas vezes. Sempre digo que teve um tempo em que eu era pontual, mas já faz tanto tempo que nem tenho certeza se esse tempo realmente existiu. Já não sei bem qual é a sensação de não parecer estar atrasada. Às vezes até chego na hora, mas a impressão é que vou me atrasar.
Inicialmente achava uma incoerência minha. Uma atrasada-adiantada, lenta-rápida. E ainda acho incoerente. O que mudou é que antes a incoerência era inaceitável, mas agora entendo que é ela que faz ser de algum modo coerente, a vida, a humanidade e a falta de sentido.
Sei que às vezes parece descaso, narcisismo, desleixo e sei lá mais o que… Não consigo pensar ao certo, já que passei o dia fora de casa e estou aqui escrevendo em cima da hora. Escolhi a quinta-feira não à toa, mas sim como que uma licença poética para fazer um texto de quinta, sem pesar na consciência. Mas tudo tem limite e, para a licença valer, não posso deixar chegar na sexta.
Acho que é meu jeito de dar conta… (Cochilei aqui por uns três minutos…) é meio que sem querer querendo… Às vezes sinto vergonha, às vezes acho necessário, na maioria das vezes tento justificar. Mas por mais que eu arrume justificativas, ninguém tem nada a ver com isso. E aí me deparo com a incoerência de novo.
Nos anos iniciais da escola, supostamente fui baliza nos famigerados desfiles da Semana da Pátria, “no” 7 de setembro. Mas eu me sentia uma farsante, porque nem “ponte” fazia. Sentia que na verdade eu estava fantasiada de baliza, mas não podia ser a baliza em si. Porém nada ali tinha muito sentido.
Saí atrasada de casa e por sorte encontrei uma vaga para estacionar perto do trabalho. A baliza fantasiada então ressurgiu. Encaixei lá, mas um pouco torta, porém não o suficiente para ser arriscado demais ali permanecer. Assumi minha incapacidade de fazer baliza naquele tempo-espaço e segui o baile.
Ps.: Perdoa-me pelo texto… Já me justifiquei. Mas não adianta, né?
Ps.2: Pesquisa o significado de baliza. Ia me prolongar mais aqui, mas volto a cochilar.
Ouça: Coração Selvagem, de Belchior, interpretada por Ana Cañas. Aproveita e ouça também Alucinação interpretada por ela. (Vou me permitir seguir indicando sem muitas justificativas).
