Atleta
Meu corpo quase parou. A mente, por outro lado, continuou maquinando estratégias para a própria (sobre)vivência. Primeiro as pernas. Doloridas como se eu tivesse enfrentando uma maratona. Uma não, várias. Sem descanso, sem pausa. Por isso, continuava. Corria: contra o tempo, contra a culpa, contra a vontade de parar. Depois, os braços. Os mesmos que tanto abraçaram, que foram afagados, sentem-se cada vez mais atados. Com as mãos acorrentadas, o correr anterior tornava-se ainda mais complicado. Seguiu, portanto. Os olhos, logo em seguida. Sem óculos, sem visão, sem lágrimas rebeldes. Por último, a voz. Talvez, tão acostumada a ser suprimida, parou pelo desuso.
Calou. Caiu, tropeçou, levantou.
Gritou.
”Será que você não grita para dentro?” Questionou a analista.
Grito e escrevo com a mesma constância. Uma vez por semana, em doses homeopáticas. Até tentei escrever outro dia. Temas outros. A dor não permitiu, por fim. Estava generalizada, latente, gritante, ao menos, no termômetro. Dois dias em casa para curar as dores. As dores que não são dores, naquela casa que não passa de um espaço.
Percebo que preciso parar de correr contra o tempo e outros obstáculos inventados.
A maratona é de sobrevivência contra a minha própria companhia.
